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sábado, 16 de maio de 2020

pan demo

nunca me instalaria no meio do caos
dessaturando a utopia
mas eis que preciso lavar uma pia
e estender a roupa amassada
de toda uma geração
enclausurada

o pão não é nosso
e a cada dia
endurece mais o meu encantamento

chega de rimas
saudade já foi coroada

mas arrebento
e em cima desta pedra cansada
me destroço na cidade vazia

pandemia
amanhece cristalino
de um azul-desgosto
anoitece vidro-fosco

de que vale esta tempestade de citocina?
a quarentena, todas as posturas de Yoga
o relatório do FMI
Estados Unidos e China
as modalidades psicoterápicas do enfrentamento
as lives de Paul McCartney, Rolling Stones
e Ludmilla?
de que valem os tacanhos da cloroquina
e do anti-isolamento?

se hoje
no Morro do Alemão
a aurora se pintou de sangue e tinta preta

e que ninguém se esqueça
da menina do balão amarelo
se rodopia, acaba o brinquedo
ninguém fica mais velho

e ela ria, ria, ria


pandemia



Alfredo de Oliveira Neto


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