“Uma carta sempre pode falhar ao seu destino”
(Jacques Derrida)
“Mas mesmo assim precisa ser escrita”
(eu mesmo)
A senhora talvez já tenha me visto com uma caneta na mão e um carimbo na outra, subindo e descendo morros e becos. Não, não sou o homem do censo, sou um jovem médico de família, e preciso muito dizer à senhora que acordarei cada manhã mais animado ao saber da vossa atenção sobre minhas inquietações, digamos, primárias.
Estou no Rio das OS, e talvez por esse fato, venho me molhando com experiências de várias naturezas. Ontem um agente comunitário gritou um eureka no meio de uma reunião de equipe: “nós somos a UPP da saúde”. Fiquei imaginando quem seria o capitão Nascimento… bom, espero que não seja eu, pois todos nós sabemos que o Nascimento desbancará quem quer que se atreva a disputar com ele as eleições de 2014, inclusive a senhora, e eu não topo esbravejar em palanques o aumento da cobertura da UPP da saúde. Peço pra sair. Pois veja, presidenta, se essa questão da cobertura não é basal…
Cobrir números é muito mais fácil que cobrir gente, mesmo que sejam cifras astronômicas. Pensando tecnocraticamente, nova matriz ideológica de um médico da família OS, os números não mentem e não fazem barraco, pois podem ficar juntinhos embaixo da coberta, amontoados, mesmo que sejam zeros ou uns. Por outro lado, gente se espicha, ronca, e se embola um no outro empurrando sempre alguém para fora do lençol. Deixe-me ser mais clarividente: “a cobertura do PSF no Rio aumentou de 7 para 20% em dois anos”, mas apertando a tecla SAP: “aê, sangue bom, destampamo a tampa do caldeirão, o rango tá mei azedo, mas a fissura é gigante…”
O resultado dessa feijoada são 41 consultas num dia de trabalho. Saúde do trabalhador poderia ser uma sobremesa apetitosa nesse banquete comunitário, mas teria que ser servida nas UPAs: uma simples triagem de cores me embalaria para o leito branco da sala vermelha. Imagine, presidenta, os custos futuros com reabilitação de trabalhadores que teoricamente acreditam nas vantagens promocionais, digo, da promoção à saúde das famílias deste país… Ó país, ó!
Ao “destampar o caldeirão”, transbordou uma demanda que estava empacotada em panela de pressão. Sei que o parto é difícil, também chorei ao nascer, mas as equipes de saúde da família estão ávidas para encontrar logo a mamãe para seguirem embalados pela mágica do amor, olho no olho.
Tudo é muito novo PSF, Rio, OS, mas, por favor, por mais emancipatórios que sejamos, e acredito que a senhora seja realmente, imploro uma regulação em rede, ou em qualquer web que seja. Porque se continuarmos nessas linhas paralelas de fluxo, não vamos conseguir nos dar as mãos, muito menos, dançar uma ciranda. E, por favor, cancele os próximos palanques de aumento de cobertura, se o Padilha já está cansado em pronunciar a palavra qualidade na atenção, que tal arrumarmos primeiro o terreno, para que o compasso do chinelo faça a gente sorrir quando mais um entrar na roda?
Por fim, queria lhe fazer um elogio: apesar de todo aquele papo de “generalzona” que a direita adorava lhe pintar na campanha, a senhora está cada vez mais bonita e elegante.
Até a próxima
Carinhosamente, Dr. Luiz
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