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quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Na cova dos leões Marinho


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Uma coisa é escorregar para dentro de uma jaula com quatro leões famintos, estrebuchar-se no laguinho onde eles se banham, ao se levantar pisar no rabo do leãozinho filhote, finalmente receber o rruauurrr recheado do bafo quente do Rei e esperar pela dentada mais radicalmente mortífera possível.
Outra coisa é estar nos estúdios de telejornalismo no Jardim Botânico – RJ, sendo candidata à presidência mais non grata da família Marinho e estar sentada na mesma mesa à espera de uma entrevista ao vivo (co)mandada pelo casal mais-que-perfeito Bonner & Bernardes para mais de 40 milhões de brasileiros. Era segunda à noite, 9 de agosto de 2010.
Pelo grau de hostilidade da Emissora com a candidata, apostaria nas caretas do porteiro, passando pelo ascensorista, mordomos, até chegar na mesa de tortura canibal. O servente que mais fechasse o tempo ganharia um verão todo de férias. O assistente de câmera deve ter deixado cabos pelo chão; a maquiadora, cremes para salientar o suor; a contínua, café com gelo e o operador de áudio (esse deixou passar para os 40 milhões), uma fala de andróide retardado na resposta de Dilma a uma das perguntas.
O jogo imposto pelo casal era fair play só para eles próprios, “vamos para o que interessa...” Ué, mas eles haviam acabado de perguntar sobre o desinteressante? Quiseram num lance digno de palmas do publicitário Goebbels inverter a história: Dilma guerrilheira para Dilma torturadora (“que maltrata os colegas de trabalho”). Insinuaram que o Brasil não havia crescido tanto assim perante outros países apesar de todos os outros candidatos, inclusive o próprio Serra, admitirem isso. Taxaram-na de inexperiente mesmo após já ter assumido secretarias municipal e estadual, além do segundo maior cargo da hierarquia do governo federal, como ela mesma frisou. Pintaram o sete, fizeram o escambau.
A raiva estava presente nos sorrisos falsos, o teatro era romântico: acusadores de extrema índole e honra perante o réu mais infortunado de virtudes humanas, que ficava claro o seguimento da sentença para uma pena capital. A impressão que dava é que, devido ao explícito clima de precipitação de um ringue em toda a entrevista, depois do anúncio do comercial, Dilma e Bernardes se levantaram e se puseram a puxar os cabelos uma da outra, as duas se mostrando línguas a cada puxavão.
Dilma passou no vestibular, medicina USP com engenharia ITA. Apesar de ter falhado um pouco a voz devido a uma possível taquicardia sinusal desencadeado por forte descarga noradrenérgica, seu timbre é rouco e grave o suficiente para uma mulher ser bem ouvida numa televisão. Mesmo apesar da indesculpável falha de áudio de uma das maiores emissoras do planeta: com tecnologia audiovisual suficiente para ouvir os gritos de uma borboleta e filmar genes em mutação.
Acho que mutação é um exemplo interessante. Foi a primeira vez que vi uma certa afobação, uma dose de ansiedade, que nessa ocasião simbolizava um tenso clima de medo advindo, de maneira surpreendente, da poderosa plim-plim. Bonner & Bernardes, símbolos do patrão-patroa, estavam mais que eufóricos e, por isso, menos-que-perfeitos. A aleatoriedade das mutações genéticas beira os limites entre a ciência e outras interpretações, como as religiosas e metafísicas. Não há maneiras de prever tamanho grau de improbabilidade, daí suporem a existência de milagres.
Graças a Deus que o que aconteceu segunda passada no Jornal Nacional não foi um milagre, mas uma mutação diferente, uma notável evidência que estamos em outra Era. Seríamos avatares midiáticos em busca de uma Pandora ainda inexistente, aliás, que jamais existiu, mas que vem mostrando raios de uma aurora cibernética? Em outras palavras, já é possível perceber arranhões no globo prateado, assim como em outros símbolos de grandes corporações de mídia? Estaríamos, através da grande rede, pescando nosso próprio peixe?
Mas voltemos aos leões. Estavam por demais famintos, perderam a presa. Era uma cobra criada, que mesmo em perigo conseguiu ensaiar umas “butadas”.
Entre leões e Marinhos, as focas batem palmas e o urso polar desperta bocejo.

Um comentário:

  1. Eu não votarei na Dilma nem agora nem no 2º turno, e não é por este motivo que vou deixar de concordar com suas palavras. As entrevistas com os candidatos à Presidência do Brasil, digo com a Dilma, Marina e Serra, foram completamente promíscuas. O JN deixou claro que o objetivo dessa série de entrevistas não foi o de conceder ao eleitorado um pouco mais de conhecimento sobre o programa de governo dos candidatos, e sim de cutucá-los, e os fazerem parecer ridículos e contraditórios. Foram entrevistas recheadas de ironia e sadismo, por sorte, ao menos a mim essas entrevistas serviram para ratificar as minhas ideias contra o monopólio alienista da Rede Globo e da mídia de modo geral. Quisera eu, que grande parte da sociedade abrisse os olhos para a mídia cruel. Mesmo diante do estardalhaço global, penso que os candidatos de modo geral se portaram com elegância e não se deixaram levar pelas provocações da bancada do JN.

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