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quarta-feira, 11 de dezembro de 2024

Carta para os fiotes: pintos, pepecas e furicos

Meus amores, à jato e aterrisando com peso de jumbo as perguntas sobre sexo pousaram na nossa sala. Vocês embolarão de rir na adolescência.

Tomás sempre foi um radar, como um bom geminiano com ascendente e mercúrio em gêmeos, ou seja Tomás não é, Tomás são. Um dos primeiros da turminha a trazer novidades, o que espicha os ouvidos para conversas de adultos, mesmo longe. Sempre buscando o que está fora do alcance, um dos primeiros a ler da turma e a se interessar por filmes, livros e séries fora da idade. É tipo um planetário.

Desde os 8, pode ver 12 anos e 14 apenas com o papai, protetor do veto caso a barra fique pesada, o que não deu certo da última vez quando dei stop no anime Jujutsu Kaisen na cena em que a melhor amiga e noiva prometida do protagonista, na ocasião com uns 7, é atropelada na sua frente e a assombração que a persegue toma forma a partir do seu sangue e vira um monstro aterrorizante, escorre rumo ao protagonista e, com sangue escorrendo, clama: casa comigo, não me abandone… Desliguei na hora e foi um escândalo, daqueles de estrelas de Hollywood.

Fiotão, a dramaticidade dos seus paranauês lembra muito seu avô e meus tios da família Oliveira. Muitas vezes vejo o meu pai nos seus palavrões, e isso confirma que sabemos muito pouco ainda do poder da genética, que certamente está entrelaçada com a espiritualidade.

Vivico, como irmão mais novo libriano tenta pôr panos quentes, herdou a minha temperança paz e amor, por isso boto-lhe pilha no Itamaraty. No entanto, como todos mais novos, é um exímio pescador sobre o que os mais velhos se interessam, e tendo-se um irmão complexo midiático ambulante, vai sugando mais rápido do que outros caçulas.

Enfim, o interesse por terror, violência e sexo está cruzando o campo da gravidade terrestre. Nada de novo no front. Não precisa estudar comunicação para saber que sangue e sexo hipnotizam nossa espécie.

Mal sabem vocês, fiotes, que ser criança na década de 80, quando os pais não se importavam muito com o que consumíamos, pois tudo era limitado sem a internet, fazia com que fôssemos liberados para Freddy Krueger, Jason e pornô, alugados em videolocadoras marginais.

Particularmente, tive uma infância de uma psicoeducação esquizo, bem bífida, imiscível. De segunda a sexta vivia com mainha, funcionária pública, altamente organizada, ascendente em virgem, que contava os tostões para para o fim do mês, minha maior professora de virtudes e vida estoica, a solidariedade, a disciplina, a responsabilidade, a honestidade, um coração que não cabe no infinito.

Já entre sexta à noite e domingo, e nas férias, estava com meu pai que naquela época era uma mistura dionisíaca-beatnik com dinheiro no bolso: o importante são os excessos, a libertação de desejos, a vida é um estalo, amizade é tudo.

A minha primeira biblioteca foi a sua coleção pornô que vivia no armário sem chaves e cadeados da sua suíte. Aos 14 ganhei um carro de presente, mas não podia atravessar a rua sozinho. Vai saber. Todos os meus amigos o amavam, viveu como quis, sem restrições, até os 59.

Mas vamos ao que interessa à maioria das espécies. Ontem, Fiotão, fiotinho dormiu na rede da sala, sem banho, dever e jantar. Era véspera de sua apresentação de Come As You Are, do Nirvana, com a sua turma do inglês e precisávamos ensaiar o seu teclado. Fiquei sabendo que Rafa, o vocalista, ficou doente. Espero que Mig e Pedro conseguiram segurar os tambores e vocais. Claro que não te revelei que Kurt Cobain quando canta, em si e ré, I swear that I don’t have a gun era mentira.

Pois bem, assim que seu irmão dormiu, você me metralhou com inúmeras perguntas libidinosas, que listarei aqui:

  1. Gozar quer dizer chupar?

  2. Tesão é ficar com pau grosso?

  3. Para um pau grosso entrar na pepeca precisa lamber para entrar melhor?

  4. Mamãe falou que alguns adultos, não todos, gostam de chupar pau e pepeca, é verdade?

  5. Vi no trailer de O Corvo (Onde, filho? Onde? Naquelas telas de outdoor que ficam nas esquinas) que transar é assim: um homem com tanquinho se embola na cama beijando, sugando a boca, de uma mulher de sutiã e calcinha. (ele presenciou um chupão de adolescentes na rua um dia desses e toda vez que se remete a beijo lembra disso) 

  6. Quando os adultos transam os pêlos do pinto e da pepeca ficam enrolados e se grudam?

  7. Sarrar é assim? (Ficou esfregando o pinto na parede). Você já sarrou com a mamãe?


Quando olhei pro lado meu pai gargalhava. Respirei fundo e tentei as perguntas socráticas, zero sucesso. Entendi que havia chegado o momento da revelação concreta, papo reto: Gozar é quando a sementinha sai (morgado), tesão é quando um adulto quer muito namorar (pra 9 tá bom), não precisa lamber (só lembrei da cena de Sônia Braga em Aquarius), não tem nada a ver com tanquinho, todas as barrigas transam (me saí benzão), não se grudam, só se encontram (Yes!), já sarrei, mas não é assim como você fez (amarelei).

Quando começou a perguntar do furico, já me sentia um prisioneiro de guerra:


  • É amanhã! Manda aquele riff no mi pra eu acompanhar no violão.


Nirvana nas alturas.