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sexta-feira, 24 de julho de 2015

carta para Tomás 2

Filhote, seu pólo cefálico coroou no pólo sul da mamãe e eu estava lá, em transe. Escrevo esta carta para lhe narrar a experiência mais visceral que seu pai já viveu, sei que é chato fazer pedidos, mas gostaria que você a relesse no seu aniversário de 60 anos, em 2075. Nem sei por que lhe pedi isso, deu vontade.
Experiência literalmente visceral vivido por sua mãe no percurso de um trabalho de parto no qual a primeira contração já se distanciou de um intervalo de apenas 5 minutos da segunda e assim por 11h.
Tomás, meu filho, você é um lorde vitoriano: já com 37 semanas esperou seu pai defender o doutorado no dia 5, concedeu à sua mãe um prazo de uma semana a partir de sua licença e, fabulosamente, nasceu na data provável do parto (DPP), 22 de maio, apenas 5% dos bebês no mundo são tão pontuais. E, para ninguém ficar nervoso, esperou o momento do passe perfeito para dar um chute mais forte e romper a bolsa amniótica: seu pai havia acabado de chegar da aula de natação, o momento mais benzodiazepínico da semana, e nós havíamos acabado de saborear uma sopa de ervilha numa noite climatizada de outono. Luxo só.
Tínhamos uma certeza, estúpida como todas as certezas, de que obviamente você não viria por aqueles dias, sua mãe estava ótima, tinha acabado de vir andando da casa dos seus bisavós até nossa casa, uma distância de 5,6 km, e já havia combinado uma prainha no outro dia.

Nesse percurso, da Gávea até aqui na Rua Faro, ela fez questão de atravessar o Jardim Botânico, o parque construído pelo proto ecologista D. João VI, a miragem verde sobre a qual a Lispector imortalizou numa crônica, o ato gratuito, onde o Jobim praticava sua religião de ouvir passarinhos, o pedaço de chão que esconde toda a força tupã-oxóssi ancestral desta cidade. Muitos dizem que não, por ter sido um jardim construído pela metrópole com espécies cientificamente escolhidas de todos os continentes. Porém, ninguém me convence do contrário: há uma grandeza de mistério e saudade no silêncio verdejante entre o bambuzal e as andirobas. No coração, uma tamanha fertilidade povoa aquele verde-escuro. A sumaúma amazônica, uma das maiores do mundo, modifica as pessoas que lhe rodeiam, enraíza-nos. O passeio despretensioso de sua mãe foi fundamental para o peteleco de vida que faltava.
Interrompe a sopa de ervilha: “vê se isso é xixi?” Até então nunca havia presenciado uma ruptura espontânea de bolsa, apenas as violentas amniotomias praticadas nas salas de gritos durante minhas práticas de obstetrícia na faculdade. Não sabia que poderia pingar. Mas era. Sabíamos que em menos de um dia você chegaria, então brindamos um vinho branco, não havia tinto na adega.
No entanto, achava que dali em diante viria tudo lentamente, contrações com intervalos largos... Que nada, sua mãe nem acabou a taça do brinde. A minha agonia era a de que mesmo com contrações lhe abraçando forte de 5 em 5 minutos, eu não poderia realizar o toque, a bolsa tinha rompido, eu não tinha luva estéril. Liguei para Heloísa, sua enfermeira obstetra, a quem um dia você vai pedir bênça, e comecei a rememorar os passos do período expulsivo, para mim havia essa chance concreta... Helô chegou umas duas horas depois e pegou seu pai no flagra, eu juro que estava com medo de uma primípara dar a luz em 2h de trabalho de parto, praticamente impossível medicamente falando. Revelo: quando sua mãe ia ao vaso, eu tinha medo de ver seus cabelos. Helô não deu muita bola quando lhe disse que a contração era “rochedo”. Bom, de dinâmica uterina, pelo menos, eu estava ok. “7cm? é boa nisso, hein?” Eu sabia que sua mãe era boa parideira desde que a conheci em Cuba, mas 7 cm em 2h eu não esperava. Senti-me melhor ainda em obstetrícia, tanto Helô quanto eu sabíamos que em poucas horas poderia sim que você chegasse ali na cama dos seus pais. Heloísa olhou para mim sem sua mãe perceber e disse “simbora!” com uma piscadela. Virei Flash, a sua bolsa estava pronta, mas e a da sua mãe? E a minha? Havíamos nos mudado há 2 meses. Na minha mochila ensaquei tudo que achei muito importante, uma camisa, uma cueca, livros de Neruda e Bandeira, um caderno de anotações e uma caneta. Havia planejado que escreveria durante o seu parto uma poesia visceral, escrita em lágrimas de tinta, uma coisa meio Rimbaud e Rilke. Reuni todas as bolsas, peguei chaves, sua mãe, Heloísa, estava eu com o apartamento nos ombros. Entramos no carro, sua mãe em contrações de 5 em 5. Sempre tive uma ideia persecutória de como deve ser o grau de tanquilidade do motorista nessas ocasiões de parto e emergência. Respirei fundo e dirigi joão gilberto, Helô me pedia para encostar a cada contração, e eu ali, um motorista conduzindo Miss Daisy, atendia elegantemente. O desespero começou quando tive a certeza de que o túnel Rebouças estaria fechado, mas não estava, não era terça-feira. Pensei em inúmeras coisas, facas, narcotráfico, batidas, errar caminho, pisei fundo. Consegui sair da bad trip já na maternidade, elas subiram rapidamente para o quarto e eu me vi novamente um sujeito calmo de fala baixa na recepção, até me pedirem o RG e carteira do plano da sua mãe. Não tinha. Antes de refazer o percurso todo de volta, meu smartphone me salvou, havia emails antigos com número do cartão e jpg da identidade. Primeiro conselho, filho: não apague seus emails.
Peguei o essencial para entrar no bloco cirúrgico: livros, o caderninho, uma caneta e um celular descarregando, vesti-me de cirurgião e encontrei sua mãe na banheira. O quarto era pequeno, sem televisão, uma maca obstétrica de boa qualidade e uma honesta hidromassagem no banheiro. A penumbra era fundamental e a equipe sabia disso, Gabriela, sua obstetra, deu play numa música meio Tinariwen ibérica, outra a quem precisarás pedir bênça. Ainda era 1 da madrugada e sua mãe já apertava minha mão na banheira com intensidade maior do que aquelas brincadeiras de adolescentes que um dia você vai conhecer. Entendi que a dor era “do fim”, segundo Luiz Gonzaga. Por aí comecei uma atividade de massagem que só iria terminar às 8h06m, foi uma prova prática de massoterapia, tenho a certeza que ainda receberei pelos correios o título de especialista pela sociedade de massoterapeutas, fui aprovado pela equipe e quase tive cãibras nas mãos.
Levanta, rebola, não quer mais banheira, maca, cadeirinha, tudo doía, claro, seu polo cefálico invadia o polo sul da sua mamãe, respira, respira. Gostava de uma posição sentada na maca com uma perna para fora e a outra dobrada, talvez por isso e, segundo Helô, pelo encucamento no neocórtex, uma parte do colo uterino fez beiço. O edema só foi reduzido após a redução manual feita pela Fernanda Satty, sua obstetra auxiliar, outra bênça, após a anestesia. O momento da anestesia às 3h foi quando caiu a ficha que estávamos numa maternidade, a Medicina arrombou a porta do quarto. Acende a luz, desliga o Tinariwen, “pode sentar, mãezinha, e coloque a cabeça pra frente.” Reclama com a técnica que o campo está errado. The dream is over.
Em vez de relaxar e dormir, o objetivo da anestesia para desfazer o beiço, sua mãe começou a não sentir do quadril para baixo, pois é, drogas mesmo nas posologias indicadas podem causar revertério. Talvez quando você for pai ou avô a farmacoterapia genética personal esteja em voga. À medida que as drogas iam sendo metabolizadas, sua mãe parecia que estava num bar em Santa, papeou com a equipe, reviu meio mundo que estava de plantão e que não via há tempo. Pensei em catar umas cervejas na cantina. Eram 3h30m. Mas as pernas voltaram ao normal e as contrações voltaram dicumforça. Fecha o bar, liga o Tinariwen, baixa a luz. Tentávamos evitar a posição sentada na cama, levanta, rebola, massagem, agacha. Não queria mais banheira. O chato é que o danado do beiço não havia desinchado, veio nosso primeiro medo de mudar de sala e irmos para o bloco do lado. A madrugada passa rápido ali em Laranjeiras, nos intervalos das contrações ouvíamos gritos das colegas das salas contíguas, bem tragicômico, às vezes entoavam uma melodia, recortada com um “ya hooo!”. O ponteiro dos minutos zunia na parede.
Senti uma injustiça imensa de não compartilhar com sua mãe as dores, poderia ser pelo menos 3 para 1, fiquei com medo de um vasovagal, ela apagar de tanta dor. Inda bem que havia tomado a sopa de ervilha. Fernanda entrou e falou mansamente que sempre foi boa em práticas manuais, em manobras e procedimentos, que iria tentar reduzir o beiço com os dedos, o edema do colo do útero, que não deixava seu pólo cefálico avançar. Ainda restava um filete bioquímico do anestésico. Não doeu nada, uma manobra que costuma espremer gritos. Você adorou.
Eram 4h30 e achei que você viria em no máximo 2h, comecei a calcular seu mapa astral, dava ascendente em Touro, apegado demais, fiz bico, mas não poderia reclamar mais de nada, você havia esperado eu acabar a aula de natação. Vagou um banquinho da colega do lado, que teve bebê, um banquinho nada demais, apenas com um design para período expulsivo, lavamos o sangue da colega e testamos com sua mãe, ela aprovou, foi assim que você nasceu. No entanto, ainda teve muita rebolada, sua mãe caprichava nisso, Helô usava a técnica do reboso, chacoalhando um pano tensionado nos quadris, você curtia e dançava um tipo Fela Kuti de cabeça pra baixo.

Já havia passado o ascendente em Touro, já eram umas 7h30, e eu havia entrado num transe do qual não lembro nada semelhante no meu passado psicotrópico, sua mãe estava esgotada, já pedia clemência sem nunca ter sido batizada. Sentado por trás dela e a ela abraçado, comecei a revirar os olhos e fazer força durante as contrações para que você fosse um pouco mais abraçado. “Vamos fazer mais três”, ou “essa é a última” foi repetido várias vezes pela equipe, como se estivéssemos regredidos, aceitávamos igual uma criança e suas colheres de aviãozinho. Até que as obstetras deitam no chão com o foco do celular aceso e dizem, “põe aqui o dedo, tá aqui”. Sua mãe não viu isso, mas eu vi pelo ângulo de cima uma contração na qual um pedaço da sua tufa apareceu e voltou. Eu chorava.
Gabriela depois confidenciou para sua mãe que nunca usou tanto sonar para ouvir batimento cardiofetal no período expulsivo quanto no seu parto. Sua mãe traçava a conduta, no intervalo da contração: “vamos avaliar mais uma vez?” Foi tanto, que chegou o momento mais tenso de todo o parto. A sua tufa já aparecendo e o sonar emitindo uma ruidosa bradicardia, aquelas bulhas produziram muita noradrenalina em nossas adrenais e ressonaram como aquele tema musical de Kill Bill. Gelamos. O maior pavor da sua mãe desde os primeiros anos de residência em pediatria eram os bebês da neurologia pediátrica, muitos sofrem sequelas graves e morrem cedo por causa de asfixia no canal de parto, porém esses partos são geralmente horrorosos, cheios de intervenções desnecessárias e precedidos de um pré-natal negligente.
Sua frequência cardíaca logo voltou ao normal e, acredito eu, foi o que sua mãe precisava para, em poucas contrações adiante, fazer a maior e derradeira força se agachando para adiante do banquinho e fazendo com que você ouvisse melhor o som do Tinariwen ibérico.
Filhote, você era a tranquilidade personalizada, não deu um pio, sua mãe ficou nervosa e perguntou se Lívia, sua pediatra, bênça, não queria levá-lo, “claro que não”, você acabou de nascer e já dava lição: “não criem pânico!”. A felicidade jorrava dos nossos olhos e enchia toda a Baía de Guanabara, despoluindo Paquetá, passando pela Lagoa Rodrigo de Freitas e indo até o emissário do Leblon e Cagarras. Sem um centavo do Eike. Passei 30 minutos contados de relógio chorando, “vai ali e pega uma gaze com a técnica”, lá ia eu “boom diiaa, poor favor, umaa gazeee”. Levei você no berçário, mostrei-o para todos do vidro, tirei fotos, zap, tomei um expresso e uma água. Tudo chorando.
Fernanda e Gabriela me revelaram que fizeram questão de serem exatas nos minutos, tinham reparado em mim calculando o seu mapa. 8h06m. Gêmeos com ascendente em gêmeos. Foco, meu filho, foco.
Não sei se você notou, na sua primeira carta, chamo-lhe de Tomaz, com Z. Essa letra foi uma questão de intriga durante a gestação. Sua mãe e amigas eram do time do S, suas avós, inclusive minha sogra, meus amigos e eu, do Z. Há um cartório no subsolo da maternidade em Laranjeiras, assim que o deixei no quarto com sua mãe, tive essa incumbência. Antes eu brincava que quem iria registrar seria eu mesmo, então a mim cabia a decisão. Depois de 11h de trabalho de parto, nem pestanejei: “Tomás com S, né?” E fechei a porta.
ps1: recomendo-lhe usar Tomaz em qualquer coisa que possa fazer com esse gêmeos com ascendente em gêmeos.
ps2: o que saiu do poema Rimbaud e Rilke foi esse brega-Bandeira aqui:
to mais feliz
com tomás aprendi
to mais eu
to mais nós
to mais aqui
papai, mamãe,
vovô e vovós
saúdam o pequeno
com tomás renascemos

Beijos do seu pai que o ama desbragadamente,
Alfredo


quinta-feira, 7 de maio de 2015

Carta para Tomaz

Filhote, de agora até seu pólo cefálico coroar no pólo sul da mamãe, lhe mandarei cartas adiantando nossas conversas neste mundo novo para nós dois.
Hoje sonhei com seu avô, Bianor, vovô Bibi, que só conhecerás por fotos, poucos vídeos e histórias de monte. Trajava linho branco, como era seu costume às sextas em homenagem a Oxalá, mesmo sendo filho de Oxum. Estava num bar bonito, decorado por madeira e luz baixa, cercado por gente risonha. Lembrou-me de que nos vimos última vez também num sonho, era carnaval, eu de Chacrinha. Vagamente. Muito raro sonhar com seu avô, raro lembrar sonhos, vivo sonhando de olho aberto.
Você iria curtir bastante vovô Bibi. Na minha adolescência, era o pai predileto dentre os pais da minha gang. Extremamente liberal no nível do comportamento, sair com “tio Bianor” era sempre uma grande aventura na noite dos adultos. Como a contradição mora no cromossomo humano, ele me permitia na infância pilotar lanchas, mas nunca, e o “nunca”dele tinha força, atravessar a Av. Boa Viagem para tomar côco verde, ou me aventurar pela praia junto com meu bando. Já crescido, torcia o nariz quando eu peitava frequentar shows de rock, mas fui o primeiro da minha geração a ganhar um carro. As mães dos meus amigos achavam um absurdo, e era, eu tinha 14. “Tio Bianor é uma gréia”, só escutava.  
Os sobrinhos preferidos e eu recebíamos presentes de sonho: Castelo de Grayskull, caiaque personalizado com a grafia do nome, roupa de neoprene e aparelho de mergulho completo, home computer Hotbit MSX, passagens pra Disney, teclado Minami MP 2020, Fiat Uno vermelho zero km e um Del Rey conversível de marcha automática, ar-condicionado, vidro elétrico – quase uma mágica no final da década de 80, que ainda tinha uma televisão de três polegadas com sinal ruim que ficava embutida no som do carro e cuja a imagem era ampliada por uma lente. Para deixar a cena mais pitoresca para época, havia um telefone sem fio com um sinal de curta distância, mas que dava para usar no miolo de Boa Viagem em torno do prédio onde ele morava. Aos 8 anos, em 1987, ganhei um cartão de crédito, Dinners Club International, luxo só, porém novamente a controvérsia, ou a sabedoria, eu só poderia utilizar com a sua presença, nas compras que ele aprovasse. Paguei muita conta no Nino`s em Copacabana durante minhas férias em jantares regados à cavaquinha e uísque. Em todas as eleições antes de retirar meu título, ele me levava à cabine e me mandava votar, “não quero me responsabilizar, o futuro é seu”, deu no que deu, acabei votando no Collor. Claro que quando havia amigos seus como candidatos, e sempre havia, ele mudava minha caneta, “é melhor aqui ó”. Todo ano novo, ele segurava no gargalo uma Dom Perignon e servia um gole na boca para cada um dos seus, sempre usava o mesmo short preto e uma camiseta amarelo-ouro. De novo Oxum. Fazia anualmente uma festa ecumênica gigante na praia, em frente ao seu prédio à epoca, Edf. Nice, na qual juntava a sacristia da igrejinha de Boa Viagem com pai de santo e baianas, que rodavam a saia na beira do mar enquanto incorporavam. O padre começava a missa, havia imagens de cristo e Nossa Senhora da Conceição. Constituía uma cena típica de um filme de Glauber. Isso tudo acontecia à noite, o que me enchia de medo e curiosidade.
Medo e curiosidade era o que eu sentia pelo vovô Bibi durante toda minha infância e adolescência. Extravagante e supersticioso, liberal e repressor, irascível e educado, perseverante e perdulário. Um anarquista com pitadas de punk no comportamento e na moral, e um conservador na política. Excêntrico, megalomaníaco que amava seu pai “desbragadamente”. E, aqui pra nós, nenhum brinquedo me enchia mais de felicidade quando ele de soslaio me olhava e dizia: “É craque.” Isso acontecia com alguma nota dez na escola, ou em coisas que eu fazia e só ele enxergava tanta craquice. Depois que seu aneurisma na artéria comunicante anterior se rompeu, numa hemorragia subaracnoideia severa, a única sequela que sofreu foi uma mudança de comportamento... para melhor. Saiu do uísque para a cerveja, ficou mais manso e mais sociável. Nesse momento, perdoei-lhe por falhas e imperfeições, perdi o medo e joguei o karma no lixo mais próximo. Pena que durou pouco e vovô Bibi partiu aos 59.
Há milhões de outras histórias do seu avô que reunirei num romance sobre esta curiosíssima família Oliveira, mas o que quero lhe falar mais objetivamente nesta primeira carta é que te livrei de se chamar, em vez de Tomaz, Bianor de Oliveira III. Não só vovô Bibi queria, como você era naturalmente, numa tradição de no mínimo cem anos, a próxima vítima. Seu trisavô, Bianor de Oliveira teve o caçula, Alfredo de Oliveira, que homenageou o pai no primeiro filho homem, vovô Bibi, que teve o filho único, até onde eu saiba, Alfredo de Oliveira Neto, eu, que quebrei esta corrente Bianor-Alfredo-Bianor-Alfredo.
Quase, meu filho, por pouco.
Saiba que estou adorando nossa comunicação mão e chutes, tenho a certeza de que já reconheces quando é o papai, muitas mãos não recebem tantos chutes. Saiba que você já orgulhou muito o papai, pois seu primeiro movimento foi durante o disco Arena Canta Zumbi, você deve ter se empolgado com o batuque.  Você está agora com 37 semanas, cuidado com a cabeça ao se encaixar, tome conta do seu fígado recém-formado, e quando estiver naqueles soluços chatos, tente dar uns apertinhos no cordão. A partir de agora a mamãe me prometeu que vai dormir mais e falar menos ao telefone.
Tomaz, muita calma nessa hora, porque segundo Heráclito e o Lao-Tsé, tudo flui. Medite, meu filho.
Do papai que te ama desde que você tem 6cm,

Alfredo