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terça-feira, 18 de junho de 2013

bom dilma

Uma carta sempre pode falhar ao seu destino.
(Jacques Derrida)
Mas mesmo assim ela precisa ser escrita.
(eu mesmo)

Bom dilma, presidenta.

Preciso muito saber qual é a sua turma. Ontem dia 17/06, no Rio, eu vi ao meu lado uma fauna de travar a Wikipédia com tantas espécies e referências: os que querem seu impeachment, os que sustentam a sua bandeira PT, os que querem a volta dos militares (“para acabar com a corrupção”), os que querem o fim da república e da democracia representativa, nazifascistas, anarquistas, existencialistas, neoliberais, comunistas e socialistas (de Fourier a Fidel), os que querem a legalização da maconha, a união civil gay, os evangélicos (de todos os costais), os contra a PEC37, EC29, os contra a FIFA e a Copa, os indigenistas, os contra os impostos, os agroindustriais (eu juro), a juventude católica, os do PV, PSTU, PCB, PSB e PCdoB, e os que, coitados, queriam apenas a revogação do aumento das passagens. Todos juntos na mesma avenida Rio Branco. Nem o Bola Preta reúne essa gente toda.
Apesar de que, presidenta, na sua época era o bloco de uma turma só, a do “abaixo à ditadura”, sinto lhe informar que não tenho inveja. Paulo Leminsky intitulou profeticamente num de seus livros de poesia da década de 80: “distraídos venceremos”, que se encaixa perfeitamente nesta geração que nasceu com a TV por assinatura e agora se esbalda a “perder tempo” na internet. Acho que todos os pais e mães aprenderam ontem que a criança precisa sim perder tempo, que a internet pode educar, fazer refletir e, sem dúvida, mobilizar. E que há muitos links bonitos, blogs encantadores e perfis do tweeter mais lindos e mais cheios de graça. E que por esses múltiplos interesses, a nossa passeata tem essa cara que a senhora viu e deve ter mastigado “tão bonitos, mas tão perdidos”.
É que a gente tem orgulho de admitir que estamos perdidos num planeta azul boiando em espirais em torno do sol, temos o orgulho de dizer “não sei”, tanto para deus, quanto para a ciência, para o “progresso” e para esse formato de república democrática representativa francesa que, pelo visto, anda tão atracada com interesses privados, que chega ao ponto de não nos representar mesmo quando conscientes apertamos o botão da urna. Presidenta, a nova civilização brasileira ontem acordou, curtiu e compartilhou.

No entanto, tenha a certeza de que tudo isso não aconteceria se não fosse o Movimento Passe Livre (MPL), que começou em 2005, em Floripa, na Revolta das Catracas. De lá para cá, eles formaram passeatas anuais em vários pontos do país, e, quando a rainha mídia filmava (perdão, mas a senhora mesma sabe que é apenas uma “primeira-ministra” no tabuleiro do war midiático), só editava as imagens de vandalismo e marginalidade. Editava, passado, agora somos capas dos jornalões, todos ao nosso favor, somos pop, anúncios de empresas e publicidades já devem estar prontos para garantir matérias ao nosso favor. Super novos tempos, não é presidenta? Tudo muito potente e muito frágil, o diamante numa sala de espelhos.
No entanto, mesmo os “distraídos” possuem um pé na terra de virgem e capricórnio. Serei agora o eco de tanta pluralidade: queremos a revogação imediata do aumento da passagem e um maior subsídio público no preço da tarifa. Los Hermanos (os vizinhos, não a banda) pagam mais de 60% de subsídio público, o Chile, mais de 50%, e nós apenas 12%, o que nos encarece enormemente a cada rodada de catraca. Depois, caso consigamos, aí vamos atrás de outras coisas, como o aniquilamento completo das máfias de transporte em cada município, limpa geral nas licitações e contratos melados de champanhe, sangue e uísque escocês.
Hoje mesmo o 488 Caxias Usina parou bem depois do ponto rumo ao trabalho e, na volta para casa, uma viatura da mesma empresa queimou a minha parada. Inda bem que a “minha parada” não era maconha, pois seria queimada em via pública.
Catraca, presidenta!, notou que a passeata dos 100 mil, onde estavam a senhora, Norma Bengell e outros 99.998, também foi no mês de junho? Dia 26, e o nosso 17. O que é que Gêmeos e Câncer tem a ver com isso? Provavelmente a faísca da facilidade de comunicação geminiana com o sentimento canceriano de que somos diferentes, porém, família, povo, nação, civilização.
Está me achando disperso? Lembre-se de Leminsky, presidenta, “distraídos venceremos”.
Qual é mesmo a sua turma?

Cordialmente,
Dr. Luiz