ela poderia andar numa laje da Vila Cruzeiro
numa miragem no deserto de Israel
prestes a cair num bueiro de uma avenida
beira-mar qualquer
poderia ser minha tia, uma querida
mesmo sem ser querida
ser a covardia de enganar
alguém com uma flor
ser a própria alegria
a cotovia daquele poema
ela deveria voar
alguns quilômetros de azul
ultrapassar o teto do dia-a-dia
sua flor virar ventilador
motor de lanche
turbina de ônibus espacial
qual o quê?
ela saiu do metrô abraçada à flor
passo a passo de cuidado
e a flor girassol acenou:
amarelou, amarelou