“Uma carta sempre pode falhar ao seu destino”
(Jacques Derrida)
“Mas mesmo assim precisa ser escrita”
(eu mesmo)
Querida presidenta, nesta semana, durante minha visita domiciliar, senti um cheiro de queimado numa ruela, quando prontamente chegaram os periquitos, foi quando pensei na senhora.
Curupacu! Chegaram as maritacas trazendo balde d'água para salvar Amazônia, Hugo Chávez jogava xadrez com Kadafi numa folha de bananeira, que se descascava a cada pitaco de Obama, o fogo aumentava e vinha de todo lado: chineses engoliam tablets e cospiam chamas pra cima dos jequitibás, bolsas de valores, dentro de jacas maduras, transbordavam dólares fumegantes, ingleses bebiam coquetel molotov e se acendiam como fósforos. Nas cédulas americanas, em meio às labaredas, George Washington baforava calmamente seu cachimbo da guerra, mas era maconha roubada dos mexicanos. A floresta ardia e se estalava em brasa, ardia... bom dia... bom dia... Bom Dilma!
Acordei molhado de suor, presidenta, na maca do meu consultório. Para mim também havia sido um pesadelo ter atendido 20 pessoas numa manhã. Havia dormido meia hora do meu almoço.
Periquito é o carinhoso apelido dado pelos moradores aos soldados do Exército pertencentes à força de pacificação aqui do Rio de Janeiro. Naquele mesmo dia do pesadelo, enquanto perambulava pela visita domiciliar, havia sim um cheiro de queimado numa ruela. Imediatamente eu e meu fiel escudeiro ACS chegamos ao local, assim como os periquitos. Ficamos assim: Quixotes e Periquitos prontos para a batalha final em frente a uma bomba d'água que tossia uma fumaça fina. Corre, pega o extintor, força-tarefa, nisso um vizinho, daqueles que passam a tarde na calçada, mansamente chegou perto e desligou a bomba. Durante esses meses que os periquitos estão voando pelo morro tem sido assim: muita água, pouca bomba, mas a fumaça ainda Babylon protege.
É que em terra de periquito, o bico é curto, e boca vira boquinha. Todo fim de tarde parece desenho animado: quando a boquinha começa a gritar, lá vem os periquitos, vem gente avisar, fecha a boquinha. Chegam os periquitos, nada, nem migalha, voam de volta os periquitos, a boquinha vai saindo do beco da fome, dá um muxoxo e volta a comer pelas beiradas. E assim se passam as tardes no morro das boquinhas e periquitos.
Presidenta, preciso lhe confessar que não me sinto mais como quando assumi: um médico de família numa Faixa de Gaza afegã no interior do Iraque. Hoje em dia, aqueles caminhões, uniformes da mata, coturnos, todos os calibres remontam-me à coleção infantil dos Comandos em Ação. G. I. Joe! É assim que eu cumprimento os periquitos, um tanto quanto integralista, né não?
Mas os moradores, recém-saídos da tirania, começam a respirar um ar, digamos, rarefeitamente democrático. Ouço coro: “tá bem melhor, Dr. Luiz”. Dizem que antes era mais motoqueiro que gente, e dia sim dia não o proibidão se juntava à liberação no bonde que ficava parado, pois nas ruas fechadas só entravam tchutchuca e tigrão. Agora, mesmo com uma biodiversidade mais restrita, os moradores acreditam que na troca dos periquitos pela UPP, a coleira fique mais solta. Para eles, PM e tigrão não tem distinção. Para mim, o problema não será na troca, mas depois da Copa...
Faço todo esse rodeio para lhe dizer que no mapa astral seu Marte em Áries na casa 10 está pegando fogo, ou seja: “cai, cai, ministrão, cai, cai, ministrão, aqui na minha mão”. A senhora estava uma árvore cheia de fruta podre, mas, caindo uma por uma, a imagem do verde foi ficando mais frondosa, e agora espera a primavera que está se abrindo no horizonte. E o melhor, só nasce fruto hortifruti, colorido e grande.
Casa Civil, Transportes, Defesa, Turismo, Agricultura, salve-me Nossa Senhora da Saúde! Prometo-lhe que da próxima vez que vier inaugurar uma Clínica da Família, vou lhe levar num terreiro aqui perto de casa. Ainda bem que você é filha de Ogum, nega.
Como se não bastasse, parece que o climatempo está prevendo uma tempestade de dólares. Benjamin Franklin inundando bueiro entupido, George Washington (aquele que roubou dos mexicanos) escorrendo em lama morro abaixo, Thomas Jefferson caindo em goteira no prato de sopa.
Meu olho clínico me diz que os bisturis já estão afiados em relação aos juros.
Bom, presidenta, no que se refere ao meu papel como médico de família, quero-lhe dizer que estou fazendo minha parte, ando meio rouco de tanto convidar o povo para as conferências distritais com juros ou sem juros. Mas, aqui pra nós, queria convidá-los mesmo para virem aqui pro blog. E aquela banda larga? Até agora não tocou nem uma música...
Para terminar, quero muito saber se essa nova categoria nosológica: “obsessão por home care” é contagiosa. Tem vacina?
Carinhosamente,
Dr. Luiz.
1) um beijo a Goreth e o povo de Tabuí.
2) Charles, pitbull chupando manga? Espero que seja daquelas “manga pôde”. Um abraço.
3) Agradeço ao pessoal do blog Lima Coelho (http://www.limacoelho.jor.br/home/) pela ótima acolhida. Dilma já está ligada.